[vc_row][vc_column][vc_column_text]O olhar de Mimulus está fixo na correnteza do rio, ela debate seu corpo de um lado a outro, como quem, paradoxalmente, luta contra o fluxo da vida para sobreviver. Sua energia, tão concentrada em se segurar, em manter a rigidez, impede que ela consiga, de fato, sentir as águas.
Não pode provar a pureza cristalina banhando suas folhas e galhos, nem deixar que a sensação fria e nutridora passe entre suas flores, num fluxo contínuo e alegre!
Ela apenas sente a correnteza do rio, sente com tamanha intensidade, que se agarra nas pedras! Percebe suas forças se esgotando e todo esforço sendo feito em vão, porque o fluir dos rios seguirá, não importa o que ela faça.
Tenta, num impulso, se agarrar às águas, mas elas escorrem por entre seus galhos… Olha ao redor e não vê nada, não existe ninguém…ela acredita que vai morrer! A correnteza vai romper seus galhos, a força das águas vai arrastá-la para longe e não há nada que se possa fazer! O medo é tamanho, que num impulso quase que desesperado, ela se agarra em si mesma, como se de alguma forma, pudesse encontrar a salvação ali.
Se esconde do mundo lá fora, numa briga incessante entre sua mente e seu coração. Os tons vibrantes e amarelo-ouro de suas pétalas vão se esgotando, se enfraquecendo… Toda a vida que pulsa em seus galhos, flores e folhas vai definhando, trazendo lugar a escuridão, ao aprisionamento; aprisionamento esse que agora deixa de ser entre as rochas por onde cresceu, e passa a ser um aprisionamento da alma.
Ela já não enxerga mais a coragem que a fez brotar em meio à força dos rios, ou em suas margens alagáveis e incertas, ela só enxerga a correnteza das águas.
Ainda que o céu esteja azul cintilante, que os pássaros cantem, que os musgos celebrem a vida, ela só enxerga a força das águas, essa força externa que golpeia sua vida por inteiro. Essa força externa, que vai se tornando gigante, imensa, tomando proporções infindáveis! A vida que a cerca, de repente, virou um monstro, um imenso perigo.
Nem as outras plantas, nem os pássaros, nem o céu azul lhe trazem a sensação calorosa da vida. Tudo é temeroso, existe uma grande angústia de ser golpeada e sentir-se estraçalhada outra vez, outras repetidas vezes.
Mesmo quando o fluir das águas se acalma e tudo lá fora é belo e suave, dentro dela sempre existe o medo; o medo silencioso, mas fugaz. O medo que faz com que ela se encolha diante da existência e vá se tornando pequena, pequena, quase imperceptível.
A sensação é essa: ela se vê inexistente diante da vida. Na verdade, seu maior desejo é parecer inexistente, porque só assim ela poderia passar despercebida diante do mundo, camuflada perante o destino, intocável diante das incertezas.
Curiosamente, quem a olha de fora, tem a sensação oposta. Admira a bela impressão que ela causa, como quem dança com os rios! Parece que suas pétalas, ao tocarem as águas com seu tom vibrante, levam a energia da vitalidade a outras terras, vilarejos e colinas.
Toda a natureza admira sua coragem por seguir ali, tão iluminada em meio às intempéries. Queriam se aproximar dela, abraçar seus galhos e sentir suas cores, se banhar dessa alegria toda, que faz com que ela pareça brilhar e contagie a todos ao redor!
Mas ela não enxerga nada disso, o medo não deixa. O medo deixou a visão turva, o coração apertado e a voz emudecida. Era preciso que algo pudesse transpor essa barreira, que fosse possível tocar sua alma, para que ela pudesse despertar da ilusão.
Os céus queriam ajudar e a terra sentia que precisava agir diante disso. Foi quando a noite chegou, e depois dela, veio aquele breve instante entre a madrugada e o amanhecer, trazendo as gotas de orvalho para as pétalas de Mimulus.
Os primeiros raios de Sol da manhã incidiram sobre o orvalho, e como um sopro Divino, o céu e a terra se unificaram em sua alma! Mimulus sentiu a consciência fazer suas cores voltarem a brilhar, seu amarelo dourado foi reluzindo com mais e mais intensidade, banhando todo seu Ser. Ela se enxergou iluminada e tudo ao seu redor se iluminou também. O medo já não escurecia mais seu olhar, nem a impedia de sentir a vida.
Em um ato de grande coragem, entregou-se às águas do rio e pode sentir a correnteza purificar e nutrir cada parte sua, ela sorriu com o coração pela primeira vez! Olhou para o céu e em seguida baixou seu olhar para a terra, tudo o que viu foi a vida fluindo por entre suas pétalas e as infinitas possibilidades que surgem com cada amanhecer![/vc_column_text][vc_single_image image=”3231″ img_size=”full” alignment=”center”][/vc_column][/vc_row]